quinta-feira, 29 de agosto de 2013

O COMBOIO DA BEIRA BAIXA


De Santa Apolónia  ao Entroncamento é um quase silêncio,  pouco conversam os passageiros,  talvez cogitando nos problemas e dificuldades do dia-a-dia. Alcança Vila Franca de Xira, ala que se faz tarde, Castelo Branco está muito longe. O comboio da Beira Baixa acompanha o Tejo que na lezíria é sinuoso entre grandes bancos de areia branca, carregada de sílica, de quartzo e quase nunca lhe estorva a marcha..  Pára em Santarém. Muitos passageiros saem apressados, muitos mais do que aqueles que entram.  Mas a debandada geral vai verificar-se um pouco mais adiante, quando se atingir o Entroncamento, onde há muito os fenómenos acabaram com a morte do correspondente de jornais  que deles dava notícia. Na cidade ferroviária   são tantos os passageiros a sair que o grande veículo articulado resta quase vazio, é hora de desengatar algumas carruagens. Pouca gente entra, alguns  ferroviários terminado o dia. Durante a pequena espera os passageiros não se falam, olham-se apenas, mas mal o comboio arranca em direcção  a Vila Nova da Barquinha, ou talvez apenas Barquinha cidade ou ainda vila, os viajantes soltam a língua e começam a conversar, como se se conhecessem há muito,  agricultura, trabalho, família, futebol,  crise - os políticos é que não a sentem,  tudo vem à baila. É uma vozearia imensa que distrai o mais solitário. À direita, agora, o Tejo desliza manso, o sol reflecte-se nas águas calmas. A conversa propaga-se, há muitas queixas. Surpreende  as distâncias que as pessoas são obrigadas a percorrer diariamente  para trabalhar. Poucos viajantes saem e entram. O  grande êxodo principia no Tramagal e continuará em Abrantes e Alferrarede. A partir da cidade florida o comboio fica  vazio e o falatório diminui. O monstro, que há muito deixou de ser fumegante, avista o velho palacete cor de tijolo e atinge, finalmente Alvega-Ortiga após pouco mais de duas horas de andança, final da nossa viagem. O sol auto governado encaminha-se para o ocaso. Já lá vai o tempo em que   desciam muitos passageiros, agora contam-se pelo dedos de uma só mão, muitas vezes, o velho autocarro partirá vazio para a vila. 

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