quarta-feira, 18 de maio de 2016

MEMÓRIA 1974 - O MUNÍCIPIO DE MAÇÃO FACE À SITUAÇÃO DEMOCRÁTICA

Subscrito pelo dr. Emanuel Catarino, presidente do município  local, apareceu afixado, em profusão, nas montras de diversos estabelecimentos locais, o seguinte comunicado, que transcrevemos na íntegra:

«1º. -  Que quando aceitou o cargo de presidente da Câmara, o fez com alguma relutância pelo facto de ser nomeado por uma entidade e não eleito por votação de munícipes, tendo pesado na sua decisão a percepção de que era aceite pela maioria, o que se tem provado por inequívocos testemunhos recebidos.
 2º. - Que não estando «agarrado» ao lugar, com a ideia ou «vã glória de mandar», tem estado sim com o desejo de servir os legítimos interesses dos munícipes e prover o progresso e bem estar no Concelho.
 3º. - Que decidiu seguidamente à revolução de 25 de Abril, colocar o seu cargo e a sua pessoa ao dispor da Junta de Salvação Nacional, mantendo-se no entanto em exercício até decisão da mesma Junta.
 4º. - Que tendo conhecimento do interesse e diligências feitas por pessoas estranhas ao Concelho, no intuito de se constituir uma Comissão Administrativa, sugere que as pessoas contactadas se apresentem com as suas credenciais de representatividade, para se pôr o problema à consideração do delegado distrital da Junta de Salvação Nacional.
 5º. - Tendo nós prestado já o nosso contributo, desinteressado, ao serviço do Município, entendemos que a hora pode ser de renovação - se assim for entendido por quem de direito e a bem do Concelho.
Viva Portugal
Emanuel Sales Belo Catarino
Presidente da Câmara Municipal de Mação»

Sabemos que se fazem tentativas  no sentido da criação de uma Comissão Democrática Concelhia, possivelmente apoiada nos movimentos da C.D.E, mas parece que as pessoas contactadas, conhecidas pelas suas ideias anti-fascistas desde há muitos anos, não se mostram muito entusiasmadas com a ideia, talvez por se sentirem rodeadas por uma população totalmente despolitizada e que, nas últimas eleições do regime fascista concorreu com uma percentagem de 86,7% de votos a favor dos candidatos únicos.
Não nos consta também que se esteja a desencadear qualquer movimento no sentido de destituir os governantes municipais ou sequer os dirigentes das Juntas de Freguesia ou de outros quaisquer organismos corporativos, o que se justifica pelo conformismo que a população do concelho mostrou durante o longo consulado salazarista e caetanista.

In Diário de Coimbra - 18/Maio/1974

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