quinta-feira, 23 de agosto de 2012

A DECADÊNCIA DE UMA VILA XIII



Terminou a sua longa existência precisamente no dia 31 de Julho. Após o falecimento do Sr. João Vitorino, o novo proprietário não procedeu a quaisquer modificações substanciais no Café Ideal, permanecendo quase igual ao estabelecimento que, pela primeira vez, conheci em meados do passado século. Seria o café mais antigo de Mação. Muito frequentado nos anos 60, 70 e 80, foi perdendo clientela na mesma proporção que a primitiva vila foi perdendo habitantes. A sua clientela era muito centrada em funcionários públicos, nesses tempos menos que nos dias de hoje, mas os suficientes para encherem diariamente a casa. Vale a pena  recordar este episódio ocorrido nos tempos do Estado Novo. O Café Ideal mantinha uma pequena secção de papelaria e livraria e, nessa época, os horários eram cumpridos escrupulosamente.  O  proprietário de um estabelecimento de  livraria-papelaria, que ainda existe,  não podia aceitar que o "concorrente" Café Ideal pudesse vender um lápis ou um caderno fora do horário que ele próprio tinha que cumprir, daí tantas queixas fez às entidades competentes que o Sr. João Vitorino foi mesmo obrigado a isolar a zona onde tinha os produtos de livraria e papelaria  com uma espécie de taipais, que corria diariamente a partir das 19 horas e também aos domingos, a fim de evitar fazer "concorrência desleal", no entender do referido comerciante.  Má sorte a deste comerciante de origem alentejana,  viria a falecer alguns anos mais tarde e, poucos anos após a sua morte, a mulher e duas filhas haveriam de morrer num trágico acidente de viação nas proximidades de Portalegre. Conhecendo o  previsível fecho,  numa tarde quente de Julho fui-me despedir do Café Ideal e conversar um pouco com o Sr. Miguel, seu derradeiro proprietário. E continuava tudo quase na mesma, como nos bons velhos tempos, apenas não havia fregueses.

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