sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

VISITA A CÁCERES


Entrei por uma manhã de sol de inverno, em que as coisas tomam a aparência de bilhetes postais ilustrados ou de filmes em «technicolor», depois de ver ao longe, lado a lado, em seu conjunto, as muralhas corrompidas pelo tempo e o cimento-ferro das construções geométricas e frias. O antigo e o moderno, bem perto e a uma distância de séculos.
Súbito, enchi-me de espanto. Depois de uma centena de quilómetros percorridos sem avistar ninguém, via-me envolvido por centenas de pessoas. No seu habitual passeio antes de almoço o espanhol enchia as ruas, as praças e os bares.
Era um falar constante. Perfumes subtis enchiam os ares. A alegria de viver estampava-se naqueles rostos de domingo. A sua convivência fraterna, uma vez mais me confundia, as separações não existiam, todos eram espanhóis, sem discriminações, os bares e os cafés regurgitavam de gente.
E o tempo foi passando. E eu viandante só e sem destino fiquei olhando para as ruas que, cada vez mais, se viam sem ninguém. O espanhol ia almoçar.
E então o meu estômago deu o sinal e, sem ser espanhol, também estuguei o passo abandonando ruas e praças  na procura de um lugar onde comer.
E quão delicioso estava aquele cabrito frito, regado com o saboroso vinho de Cañamero.
Depois foi a visita a Cáceres, a terra dos conquistadores, Qázrix dos Árabes, reconquistada em 1229 pelos reis de Leão e fulcro da conquista da América, onde a mais insignificante pedra vale um monumento nacional.
Mas um dia voltarei a Cáceres

José Paulo-Crato

Publicado in Diário do Ribatejo - 17/Janeiro/1970

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