Um caixote de madeira, que havia servido para embalar barras de sabão, oferta do merceeiro, seria o local onde o nosso Pai montava o presépio. Todo o cenário era feito em papel grosso, convenientemente enrugado, para ficar com o aspecto de montes e vales e colocado sobre uma estrutura montada no interior do caixote e, depois, pintado em tons verdes e castanhos. O mais importante estava feito. Em seguida faziam-se os caminhos que subiam até ao céu e desciam até à gruta onde pastores, com as suas ovelhas, rodeavam José, Maria e o Menino Jesus. Como era de tradição os Reis Magos só seriam colocados no presépio quando o dia de Reis se aproximava. Papel azul servia de céu e as pratas dos maços de cigarros, recortadas, transformavam-se nas estrelas e na lua. Um espelho, rodeado de areia, era o rio, elemento fundamental no presépio. E havia muitos bonecos de barro, representando as mais variadas gentes e profissões, a prepararem-se para adorar o Deus Menino. E musgo, muito musgo na base do presépio, que nós íamos arrancar nos locais húmidos e sombrios. Todos os natais, a construção do presépio, "ajudando o nosso Pai", era a nossa alegria, a minha e dos meus irmãos. E na noite de Natal, junto ao presépio, deixávamos os nossos sapatos para recebermos o que havíamos pedido ao Menino Jesus. Passada a época natalícia, embalávamos, com o máximo cuidado, toda aquela bonecada de barro que esperaria doze longos meses para nos dar nova alegria. Fui mantendo ao longo da vida esta tradição do presépio, outrora com presépios mais completos e elaborados, ultimamente com pequenos presépios made in RPC que, para mim, apesar de simples, ainda contêm o mesmo significado. Agora, pena minha, as árvores de Natal substituiram os presépios bem portugueses que existiam nas nossas casas.
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