terça-feira, 10 de janeiro de 2012

CRÓNICA DO QUOTIDIANO

O país do milagre económico - a Itália - está, há uns meses a esta parte, a atravessar um período de acentuada incerteza, em que as lutas sociais representadas por greves e contestações se sucedem a par e passo, empurrando o país para uma difícil situação, de que mais tarde os italianos virão a pagar elevados juros, e que se reflecte já na sua indústria, motivando aumentos no custo dos seus produtos destinados à exportação. Recentemente a triste e nevoenta Milão, numa fase aguda da crise em que a Itália se debate, foi teatro de um atentado bombista que espantou o mundo, pois pareceria impossível que em países tidos como civilizados, e nesse conjunto devem ser postas todas as nações que formam o velho continente, pudessem ser praticados actos semelhantes àquele do Banco da Agricultura. A este respeito, uma amiga distante, escreve-me daquela cidade piemontesa. "Chegam agora as festas de Natal e este ano, aqui em Milão, não há a alegria habitual. Nada de luzes, quase nenhum barulho nas ruas, e as lojas não fazem o negócio dos anos anteriores. As causas são duas, as greves dos meses precedentes limitaram muito as possibilidades de compra e não se espera, por agora, um acordo definitivo nos diversos sectores da indústria". "A outra causa da tristeza é dada pela morte que a bomba levou ao Banco da Agricultura e que dolorosamente surpreendeu toda a cidade, que ainda pergunta como podem suceder coisas como esta". Seria já altura do Homem, esquecendo todos os seus mesquinhos interesses políticos, que esconde, muitas das vezes, por detrás de desejos de melhorias sociais das classes trabalhadoras, procurasse resolver os diferendos, que existem efectivamente entre o Capital e o Trabalho, num plano construtivo, abstraíndo-se de ódios e paixões que afinal apenas conduzem à destruição do Homem.

Publicado in Diário do Ribatejo em 10 de Janeiro de 1970

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