Em 1991 o concelho de Mação deveria ter sido considerado área de catástrofe. Cerca de dois terços de área florestal foram consumidos por violentos incêndios que destruíram, essencialmente, pinheiros, eucaliptos e oliveiras.
Poupada até ao presente pelos fogos, que já este ano eclodiram com grande intensidade nos vizinhos concelhos de Proença-a-Nova, Sertã e Oleiros, Mação apresenta ainda algumas pequenas manchas de floresta, logo rodeadas de grandes zonas, horrorosas à vista, porque a vegetação resume-se a pequenos troncos calcinados e despidos.
Os últimos grandes incêndios ocorreram em Agosto do ano passado. Um ano decorrido, não foram consideradas quaisquer medidas no sentido de se iniciar a reflorestação das zonas ardidas, até porque, em muitas áreas não há qualquer esperança de recuperação da floresta pelos processos naturais de desenvolvimento.
A tragédia que se abateu sobre o povo de Mação vai reflectir-se por décadas. Aqui, a floresta funcionava como um sistema de aforro: inesperadamente surgia uma despesa excepcional (doença, casamento, compra de habitação) recorria-se a um corte de pinheiros ou eucaliptos e o problema resolvia-se de imediato, porque o preço era compensador e a venda fácil.
Após os grandes incêndios de 1991 o preço das árvores baixou radicalmente e, existe mesmo dificuldade em encontrar compradores. O Estado que, como sempre, usa dois pesos e duas medidas, subsidiou no ano em curso, por via da seca, algumas das zonas do país mais atingidas pelo fenómeno da escassez da chuva, mas não considerou no ano transacto que o concelho de Mação tinha sido marcado por uma grande catástrofe e, como tal, deveria ter sido objecto de um qualquer sistema de apoio.
O que o Estado fez, segundo os proprietários sinistrados, foi muito pouco: abriu durante o último trimestre de 1991, parques de recolha de madeira ardida, em Mação e Envendos, com o compromisso de a pagar à medida que os leilões iam sendo efectuados.
Coube aos proprietários sinistrados conseguir financiamentos para proceder ao corte e recolha das árvores ardidas e posterior transporte para os parques de Envendos e Mação.
Contas por alto, referiram que os valores das madeiras queimadas, mais as despesas de corte, recolha e transporte, se aproximaria de um milhão de contos.
As primeiras madeiras ardidas entregues nos parques da responsabilidade da Administração Florestal da Sertã, foram pagas dentro de um prazo tido pelos interessados como razoável, mas essa foi uma pequena parte da madeira entregue.
Quando se esperaria que os responsáveis do sector florestal se interessassem por uma rápida regularização das dívidas aos proprietários, alguns em situação de absoluta ruptura financeira face aos pedidos de empréstimos feitos para enfrentar os problemas da recolha e entrega nos parques, apesar de insistentes reclamações dos prejudicados ao longo dos meses, os pagamentos são, finalmente, marcados para finais do mês de Agosto. Oito meses de espera são uma boa ajuda para os agricultores de Mação!
Mas a "ajuda" não se ficaria por aqui. Os agricultores do concelho de Mação se quiseram receber tiveram que se deslocar à Administração Florestal da Sertã e, como não existe qualquer tipo de transportes públicos entre os dois concelhos, com uma única alternativa: táxi ou boleia.
No entanto, e como noticia a «Gazeta do Interior», de Castelo Branco, e citamos, «...o José Bernardino e a equipa da Administração Florestal da Sertã estariam em Agosto Setembro em diversas localidades dos concelhos da Sertã, Castelo Branco e Fundão a proceder ao pagamento da madeira queimada»...
In Diário de Coimbra - 8/Setembro/1992
Sem comentários:
Enviar um comentário