«Mação, vila, sede de concelho rural e de freguesia, julgado municipal da comarca de Abrantes, distrito de Santarém, diocese de Portalegre, relação de Lisboa. O concelho tem oito freguesias com um total de 19045 habitantes, distribuídos por 5732 fogos, cabendo à sede 4104 habitantes, em 1290 fogos. A escassa produtividade agrícola do seu terreno, em grande parte coberto de olivedo e pinhais, orientou o concelho para a actividade industrial. Assim tem fábricas de lanifícios e de curtumes, , desenvolvendo-se ainda indústrias de salsicharia, pecuária, de sapataria e de serração».
É deste modo, em dez linhas, que Mação é referenciada na edição de 1967 de «Focus - Enciclopédia Internacional».
Seis anos, hoje, na vida de uma localidade é um período demasiado longo para que não deixem de se verificar mutações no sentido do progresso ou, o que é pior, na direcção do retrocesso.
Já em 1967 esta referência da «Enciclopédia Focus» era demasiado benévola em relação às potencialidades do concelho. Dizer-se que o concelho estava orientado para a actividade industrial era apenas desconhecer-se o que se pretende significar com as palavras actividade industrial.
Falar-se ainda em indústrias de pecuária e sapataria é um erro crasso, que se pode levar à conta de deficiências nas fontes de informação, que consideraram uns simples criadores de gado por industriais de pecuária e alguns sapateiros por fabricantes de calçado. Quanto às fábricas de curtumes há muito que deixaram de existir.
Não pretendemos, contudo, vir aqui criticar a referência inserta na citada Enciclopédia, mas tão somente, seis anos depois, dar uma panorâmica actual, breve e simplista do concelho mais nordestino do distrito de Santarém, que permita um cotejo com a menção aqui transcrita.
A Emigração
Vamos classificar de retrocesso o decréscimo populacional observado no período em apreço.
Segundo os números do censo de 1970, a população é de 14946 habitantes, com 4971 fogos, cabendo à sede do concelho 1019 habitantes.
À semelhança de quase todos os concelhos do país, observou-se aqui, com intensidade, uma corrente emigratória intensa. Legalizados ou a «salto», homens e mulheres partiram em busca de melhores salários para as mais díspares partidas do mundo: França, Alemanha, Holanda, Luxemburgo, Canadá e Brasil. O Ultramar também foi sonho de melhores dias para alguns, Angola e Moçambique acolheram muitos maçaenses. Por último, também os grandes centros urbanos do país chamaram muita gente, seduzidos por uma vida mais fácil - os mais novos - e por salários mais elevados e mais facilidade de educar os filhos - os mais idosos.
Como consequência da falta de mão de obra opera-se uma reconversão na indústria agrícola. A floresta ocupa o lugar das culturas tradicionais. O pinheiro e o eucalipto passam a abundar no concelho.
Mas o homem cria riqueza e consome-a. Sem gente, e esta é uma verdade cristalina, não pode haver progresso. Que interessam escolas funcionais, hospitais eficientes, estradas excelentes, se não há pessoas para utilizarem todos estes bens? O comércio não tem a quem vender e estiola. A indústria debate-se com graves problemas de mão de obra e atrasa-se nos seus programas de desenvolvimento. Os campos sem gente que lhes revolva as entranhas acabam por ser presa das ervas daninhas, transformando-se em terra inútil. Um deserto é uma terra sem vida humana. Um concelho onde a população vai diminuindo transformar-se-á, em poucos anos, em lembrança do passado.
Apesar de Tudo
Apesar de todas as perspectivas sombrias de um futuro sem ninguém, os homens que ainda permanecem no concelho lutam por melhorias e têm-nas obtido.
A Educação
Foram escassos os progressos conseguidos no campo educacional. Criaram-se alguns postos oficiais de tele-escola na sede e em diversas freguesias do concelho. Este ano lectivo, e aproveitando-se a existência de um externato liceal, instituiu-se o ensino gratuito para o ciclo preparatório.
É pouco. O concelho quer um estabelecimento de ensino oficial polivalente, que ministre cursos liceais e técnicos. Só assim se poderá criar uma nova geração que venha apoiar a incipiente indústria concelhia.
A Saúde
No sector da saúde possui-se uma assistência razoável, em termos de comparação com o que se passa pelo resto do país. Um hospital moderno, com a categoria de subregional, um centro de saúde, alguns médicos, praticamente toda a população está coberta pela segurança social. Não colhe a pena destacar-se aqui a deficiências de que enferma este tipo de assistência.
É forçoso porém assinalar a utopia que representa desejar-se grande cirurgia num hospital subregional e mini-hospitais nas freguesias do concelho. Com a carência de médicos e de enfermeiros, com o elevado custo das instalações hospitalares e respectivo apetrechamento técnico, só uma deficiente gestão dos dinheiros públicos aconselharia a implantação de pequenas unidades hospitalares, com um mínimo de eficiência, em zonas de escassa população, para mais, localizadas próximo de centros urbanos, com hospitais à disposição das suas populações.
A Electricidade
O concelho caminha para a sua completa electrificação. Está presentemente a proceder-se à instalação da rede eléctrica na freguesia da Aboboreira, a última das sedes de freguesia ainda não servida pela electricidade.
Mas nem todos os lugares do concelho estão electrificados. Nem nunca o poderão vir a ser. Há zonas que pelo seu reduzido número de habitantes não justificam, de qualquer modo, um investimento de tamanha grandeza como é o do transporte da electricidade.
As Vias de Comunicação
Talvez um dos grandes óbices a um maior desenvolvimento do concelho seja a sua deficiente rede de vias de comunicação, de traçado sinuoso e incomodativo e de piso deficiente.
Há uma grande esperança na Estrada Nacional 3, que ligará Castelo Branco a Alcanena e consequentemente às novas auto-estradas. Mas o maçaense só nela acreditará quando as máquinas começarem a rasgar as suas terras.
Esta estrada seria o motor de arranque para o desenvolvimento industrial do concelho pela possibilidade que lhe daria de encurtar distâncias com duas cidades de relativo desenvolvimento industrial: Abrantes e Castelo Branco.
Factores de Progresso
Como factores reais de progresso assinale-se a restauração da Comarca, a criação de uma agência bancária, que poderá ser o suporte financeiro de que as actividades industriais do concelho necessitam, a exploração em termos de indústria das águas medicinais da Ladeira, e a constante valorização do pinheiro e eucalipto e, cumulativamente, da resina.
Mas outros factores poderiam concorrer para o progresso de Mação: electricidade barata e abundância de água. E quando escrevemos isto lembramo-nos das dificuldades com que as indústrias de Envendos e São José das Matas têm deparado para se abastecerem deste precioso líquido.
Homens Dinâmicos
Não esqueçamos, porém, o factor humano. São necessários empresários dinâmicos e empreendedores que saibam e possam criar no concelho as indústrias que, remunerando convenientemente o trabalho, tirem do espírito das pessoas o desejo de emigrarem.
In Diário do Ribatejo - 28/Novembro/1973
Mas o homem cria riqueza e consome-a. Sem gente, e esta é uma verdade cristalina, não pode haver progresso. Que interessam escolas funcionais, hospitais eficientes, estradas excelentes, se não há pessoas para utilizarem todos estes bens? O comércio não tem a quem vender e estiola. A indústria debate-se com graves problemas de mão de obra e atrasa-se nos seus programas de desenvolvimento. Os campos sem gente que lhes revolva as entranhas acabam por ser presa das ervas daninhas, transformando-se em terra inútil. Um deserto é uma terra sem vida humana. Um concelho onde a população vai diminuindo transformar-se-á, em poucos anos, em lembrança do passado.
Apesar de Tudo
Apesar de todas as perspectivas sombrias de um futuro sem ninguém, os homens que ainda permanecem no concelho lutam por melhorias e têm-nas obtido.
A Educação
Foram escassos os progressos conseguidos no campo educacional. Criaram-se alguns postos oficiais de tele-escola na sede e em diversas freguesias do concelho. Este ano lectivo, e aproveitando-se a existência de um externato liceal, instituiu-se o ensino gratuito para o ciclo preparatório.
É pouco. O concelho quer um estabelecimento de ensino oficial polivalente, que ministre cursos liceais e técnicos. Só assim se poderá criar uma nova geração que venha apoiar a incipiente indústria concelhia.
A Saúde
No sector da saúde possui-se uma assistência razoável, em termos de comparação com o que se passa pelo resto do país. Um hospital moderno, com a categoria de subregional, um centro de saúde, alguns médicos, praticamente toda a população está coberta pela segurança social. Não colhe a pena destacar-se aqui a deficiências de que enferma este tipo de assistência.
É forçoso porém assinalar a utopia que representa desejar-se grande cirurgia num hospital subregional e mini-hospitais nas freguesias do concelho. Com a carência de médicos e de enfermeiros, com o elevado custo das instalações hospitalares e respectivo apetrechamento técnico, só uma deficiente gestão dos dinheiros públicos aconselharia a implantação de pequenas unidades hospitalares, com um mínimo de eficiência, em zonas de escassa população, para mais, localizadas próximo de centros urbanos, com hospitais à disposição das suas populações.
A Electricidade
O concelho caminha para a sua completa electrificação. Está presentemente a proceder-se à instalação da rede eléctrica na freguesia da Aboboreira, a última das sedes de freguesia ainda não servida pela electricidade.
Mas nem todos os lugares do concelho estão electrificados. Nem nunca o poderão vir a ser. Há zonas que pelo seu reduzido número de habitantes não justificam, de qualquer modo, um investimento de tamanha grandeza como é o do transporte da electricidade.
As Vias de Comunicação
Talvez um dos grandes óbices a um maior desenvolvimento do concelho seja a sua deficiente rede de vias de comunicação, de traçado sinuoso e incomodativo e de piso deficiente.
Há uma grande esperança na Estrada Nacional 3, que ligará Castelo Branco a Alcanena e consequentemente às novas auto-estradas. Mas o maçaense só nela acreditará quando as máquinas começarem a rasgar as suas terras.
Esta estrada seria o motor de arranque para o desenvolvimento industrial do concelho pela possibilidade que lhe daria de encurtar distâncias com duas cidades de relativo desenvolvimento industrial: Abrantes e Castelo Branco.
Factores de Progresso
Como factores reais de progresso assinale-se a restauração da Comarca, a criação de uma agência bancária, que poderá ser o suporte financeiro de que as actividades industriais do concelho necessitam, a exploração em termos de indústria das águas medicinais da Ladeira, e a constante valorização do pinheiro e eucalipto e, cumulativamente, da resina.
Mas outros factores poderiam concorrer para o progresso de Mação: electricidade barata e abundância de água. E quando escrevemos isto lembramo-nos das dificuldades com que as indústrias de Envendos e São José das Matas têm deparado para se abastecerem deste precioso líquido.
Homens Dinâmicos
Não esqueçamos, porém, o factor humano. São necessários empresários dinâmicos e empreendedores que saibam e possam criar no concelho as indústrias que, remunerando convenientemente o trabalho, tirem do espírito das pessoas o desejo de emigrarem.
In Diário do Ribatejo - 28/Novembro/1973
Sem comentários:
Enviar um comentário