segunda-feira, 2 de novembro de 2015

DOIS MIL - ANO I


Satisfeitas que estão as principais necessidades do concelho, corolário da força do poder local que, não é demais sublinhar, foi uma das principais conquistas do 25 de Abril, importa reflectir sobre o que haverá a desenvolver para que os maçaenses atinjam o ano 2000 usufruindo de condições semelhantes às dos portugueses residentes na faixa litoral.
Trágicos têm sido os últimos anos para o concelho: sucessivos incêndios consumiram uma boa parte da floresta, a sua maior riqueza. Passado mais de um ano sobre a data dos últimos grandes fogos, a face do concelho não mostra qualquer mudança, tudo continuando terrivelmente calcinado.
É necessário que proprietários, órgãos autárquicos e Estado dêem as mãos no sentido de, muito rapidamente, se encontrarem soluções que permitam a rentabilização da floresta, criando condições para que no médio prazo o mais valioso factor económico do concelho esteja em desenvolvimento.
EmMação tem vindo a observar-se um acentuado decréscimo populacional. Repare-se que o censo de 1981 indicava 12.234 habitantes, enquanto que pelos números disponíveis do censo de 1991, a população baixou para 9.861 pessoas. Estes números prenunciam um futuro sem horizonte, se não houver uma vontade política  de desenvolver acções que, no global, evitem a desertificação do interior. Inserindo-se em tais acções, por exemplo, deve entender-se a criação de empresas que, lamentavelmente, estão a ser instaladas nas zonas mais desenvolvidas do País, com o aval e apoio de entidades responsáveis pelas políticas de desenvolvimento nacional.
Como sempre afirmámos, a rentabilização da Zona Industrial de Mação, no sentido de implantação de empresas, está fortemente dependente da construção do IP 6 e muito principalmente do troço que virá a servir o concelho. Como confirmação constata-se a existência no momento, apesar do tempo decorrido desde a criação da Zona Industrial, de duas unidades industriais, ainda em fase de construção, sendo que uma delas é, tão só, uma  transferência de localização dentro do concelho. Haverá pois que desencadear pressões sobre o poder central a fim de que o troço do IP 6 que ligará Mouriscas a Gardete, passando obviamente por Mação, seja construído rapidamente, porque na sua ausência ou retardamento, não haverá que ter quaisquer dúvidas, o concelho ficará irremediavelmente afastado das fontes de desenvolvimento e os promotores de projectos industriais procurarão as zonas mais bem servidas de vias de comunicação.
O fraco desenvolvimento comercial e industrial que nos caracteriza, origina uma contínua transferência para os centros urbanos do nosso maior capital, o homem, e muito especialmente dos jovens, com a consequente descapitalização intelectual do concelho. Para inverter esta situação e, de qualquer modo, tentar evitar um isolamento fatal, as soluções passam pela criação de postos de trabalho e pela existência de uma rede viária assente no IP 6. Numa política de fixação de pessoas não se poderá menosprezar a aposta num programa de habitação social, cujo relevo é notório, dado que o acesso a casa própria é das principais dificuldades dos jovens casais. Neste quadro sublinhe-se que em 18 anos de poder local, apenas um projecto foi pensado e concretizado no concelho de Mação. 
A inexistência de uma política cultural tem sido ma notória lacuna, apesar do esforço financeiro despendido na construção e aproveitamento de espaços concebidos para o efeito. A política cultural não é promover casuística e pontualmente acções de reduzida repercussão na comunidade a que se destinam. Fazer política cultural é apoiar os organismos vivos e dinâmicos do concelho, é programar, agendar e tematizar acções constantes e regulares que atraiam as populações e façam da cultura um lugar comum. É organizar ciclos de cinema, ciclos de teatro, encontros musicais, festivais de folclore, exposições, em suma, é ter abertos os espaços que estão permanentemente fechados.
Uma intervenção ganhadora do futuro passa também e necessariamente por uma forte aposta na educação e formação da juventude. Nestes termos a autarquia em esforços conjugados com as autoridades educativas do concelho deve, concertadamente, procurar estancar a saída de jovens que procuram noutras paragens as necessidades de ensino que lhes não são aqui facultadas.
Aguardar com esperança pelo século XXI implica uma colaboração profunda entre o poder central e o poder local. Implica que o poder central cumpra as suas promessas de desenvolvimento do país pobre a atrasado, implica que o poder local, dinâmico e imaginativo, crie sinergias que promovam o progresso e bem estar dos maçaenses.

Publicado in revista "Terras de Portugal" - Novembro de 1992.

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