quarta-feira, 1 de julho de 2015

TODOS OS NOMES DE JOSÉ SARAMAGO


Não é, seguramente, o romance de José Saramago mais bem conseguido, mas é uma das suas melhores obras. O personagem principal, snr.  José, um dos funcionários de mais baixa categoria da Repartição Central de Registos, instalada num velho, grande e desconfortável edifício, dedica-se, nas horas de ócio, a recortar e coleccionar notícias publicadas em jornais e revistas, sobre gente famosa, às quais, mais tarde, adicionará dados pessoais, - naturalidade, data de nascimento, estado civil, - recolhidos na  repartição, fora das horas de serviço. Um dia, por acaso, cai-lhe nas mãos o verbete de uma simples mulher, divorciada, professora. A mulher desconhecida. O snr. José decide, então, seguir o rasto da vida dessa desconhecida mulher, desde o nascimento até à morte que, estranhamente, sucede  no decorrer do seu inquérito. Contacta a madrinha,  os vizinhos, assalta, num fim de semana, o colégio onde foi professora, fala com os pais e visita, até, a  casa de habitação da mulher desconhecida. O snr. José, solteiro, cinquentão, mora num tugúrio, contiguo à Repartição Central de Registos. A procura do percurso de vida da mulher desconhecida representa para o snr. José a alternativa à sua vida miserável e obscura. O quadro da Repartição Central narrado por Saramago, em que o deus é o Chefe, o conservador, cuja empatia pelo snr. José é visível, para espanto de todos os funcionários, com as secretárias colocadas de modo a distinguir as diversas categorias dos funcionários e ao fundo, isolada, iluminada por uma luz suspensa do tecto, a secretária do Chefe, semelhante ao trono de um rei. É uma história que nos diz como a vida pode ser um absurdo. José Saramago (1922-2010) considerou, um dia, "Todos os Nomes", o romance de que mais gostava.

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